Dois
meses antes dos exames, já a pressão estava instalada. Os e-mails repetitivos dos professores com os regulamentos, o
calendário, as notas, foram aparecendo nas caixas de entrada dos estudantes. O
bombardeamento de regras de exames inúteis que temos de saber foi começando em
fevereiro. Tal é que a uma semana dos exames tínhamos a escola toda em cima de
nós: já começaram a estudar? Os exames
começam para a semana. Não podem levar garrafas de água para a sala de exame.
Começámo-nos a sentir asfixiados, com todo o nervosismo que depositavam em nós,
deixaram de ser apenas exames e passaram a ser monstros que tínhamos de
enfrentar e sobreviver. E nós deixámos de ser apenas estudantes e passámos a
ser as medrosas personagens principais de um filme de acção, que não querem
enfrentar os monstros.
Passámos
horas e horas sentados em frente a uma secretária, a resumir a matéria, a fazer
exercícios, a rever os critérios de avaliação, a stressar com a quantidade de
papéis à nossa frente, até que chegou a véspera do primeiro exame. No nosso
caso, foi de Biologia e Geologia.
Nessa
segunda-feira antes do exame, na aula de dúvidas, sentimo-nos burros. Em parte,
porque estávamos extremamente nervosos e já tínhamos perdido a conta ao que
sabíamos, mas, maioritariamente, porque escolheram esse dia para querer saber
mais sobre matéria do ano anterior. Quando saímos da sala de aula, faltavam
exatamente 25 horas para o início do exame, daquele exame que iria decidir o
nosso futuro por nós, é quase a nossa versão do bolinho da sorte.
Chegou
o dia 19 de Junho e às 13h30m já estava tudo no átrio da escola, a expectativa
estava no ar e as palavras: só espero que
seja fácil, ouviam-se como barulho de fundo, subimos as escadas no ruído
infernal de conversa e um a um, fomos todos entrando nas salas de aula, e
tocou. Soou o toque das 14h. Deu-se o início da prova. Voam pelas nossas mentes
as letras dos textos de meia página, as perguntas de desenvolvimento
embrulham-se nos nossos cérebros, de forma irredutível. As contas das
conjugações de notas saltitam entre o lado racional e o lado irracional do
nosso cérebro, tudo deixa de fazer sentido. Aquilo que sabemos, aquilo que não
sabemos. As perguntas mais fáceis parecem-nos as mais difíceis, teimamos em
dificultar o difícil, teimamos em rejeitar todas as ajudas que nos dão, somos
adolescentes, querem o quê de nós?! E é nesta altura que nos voltamos a
perguntar porque é que deixam crianças de 16 anos tomar decisões que vão afetar
o resto da sua vida. Porque é que as decisões mais importantes são tomadas
quando os nossos cérebros estão marinados em hormonas, mudanças de humor,
mudanças de personalidade? É nesta altura que estamos sujeitos a maiores
pressões e nesta altura querem que tomemos uma decisão que, muito
possivelmente, nos vamos arrepender no 3º ou 4º ano de faculdade? E a
maturidade precisa para tomar essas decisões? Onde é que paira? Em nós, não é,
de certeza.
Os
nervos antes do exame tomam conta de nós. Estamos na puberdade, tudo parece o
fim do mundo, mas um exame… um exame de 11º ano, toma decisões por nós. Nós podemos
até saber a matéria, mas os nervos, a pressão, as noites mal dormidas são mais
fortes do que a sabedoria, ultrapassam o que sabemos, ficamos vazios, durante
duas horas e meia.
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