Quando
somos apenas protótipos de pessoas, vagueamos por entre os adultos à espera que
algo nos chame à atenção, ou que nós chamemos alguém à atenção. Mas, quando
passamos de protótipos a mini pessoas, ou seja, quando estamos na adolescência,
tudo parece insuportável, tudo se parece com o fim do mundo. E quanto mais o
calendário avança em direção aos exames, que são as duas horas mais importantes
da nossa vida, nós com os meros 16 anos, começamos a entrar em pânico.
Na
última semana de aulas, entramos em descontração total, escolhemos tirar esta
semana de férias, depois dos testes e da entrega dos trabalhos e antes dos
exames. Mas, naquele que é o ponto de viragem entre a última semana de aulas e
a semana antes do exame, começamos a sentir o sangue a bombear mais depressa,
já a preparar-se para a grande quantidade de oxigénio que os nossos simples e
confusos cérebros marinados em hormonas vão precisar.
As horas começam a passar mais rapidamente, o
estudo começa a ficar mais intenso e aquela meia hora que tínhamos programado
para lanchar vai ter que ficar para depois dos exames, porque estamos a ficar
atrasados na matéria. Chega então a primeira aula de preparação para o exame. Entramos
na sala, em amena cavaqueira, porque afinal já não estávamos com aquelas
pessoas em alguns dias, sentamo-nos, e voltamos a concentrarmo-nos no nosso
estudo. As dúvidas correm como a água dos rios; as perguntas repetidas são a
música de fundo; as aparas das borrachas caem no chão e deixam-no branco. Já
não nos estamos a rir, finalmente apercebemo-nos que os exames vão ser mais
difíceis do que esperaríamos e que não estamos preparados psicologicamente.
Saímos
da sala abatidos, sugaram-nos a felicidade, a prontidão a fazer o exame que
antes tínhamos, perdemo-la por completo, por que se antes nos estávamos a
atrasar no estudo, agora sentimo-nos burros, inúteis e perguntamo-nos vezes sem
conta como é que eu vou sair deste imbróglio?
Respiramos fundo, contamos até três e começamos a ouvir as outras turmas a
saírem da sua sala, encontramos alguém que conhecemos e vamos para eles, a
tentar fugir daquele círculo de melancolia. Conversamos durante alguns minutos,
mas depois toca na nossa mente aquele alarme, são horas de ir estudar. Fazemos
as despedidas e dirigimo-nos para casa.
Tiramos
os livros das mochilas, pegamos nas bolsas e nas calculadoras e tentamos
estudar. Tentamos fazer com que aquilo faça sentido, mas no nosso cérebro soam,
num tom irritantes, as palavras: não
sabes, não percebes, vais chumbar! É então que fechamos os olhos,
respiramos uma e outra vez e sem percebermos aquilo que acabámos de fazer,
entramos no GAVE e começamos a ler os critérios de correção, tentamos resolver
exames de anos anteriores, nada resulta. Nesta altura, já estamos extremamente
stressados, já perdemos toda a vontade que alguma vez tivemos de estudar, já
nos sentimos chumbados, uma semana antes de fazer o exame. Começamos a
recapitular tudo aquilo que precisamos de saber, todos os exercícios que temos
que fazer, todas as horas de estudo que perdemos a dormir, o tempo que não
temos porque estamos a comer, a tomar banho, a caminho da escola e da
biblioteca… perdemos a noção da realidade, estamos plenamente descontrolados, e
ninguém nos consegue controlar, porque ninguém está em casa e ninguém sabe do
nosso pavor a provas nacionais que tomam decisões por nós.
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