Deito-me no chão frio, vejo o
mundo girar nesse canto de gelo, sinto o sol a bater noutro lugar que não o
meu. Tento fugir, a adrenalina ao máximo, fecho os olhos e sei que de nada fui
capaz, até a liberdade se escapou, até a luz das velas se apagou. Sou livre mas
não o estou, estou presa a mim mesma, dentro de um mundo cinzento, coberto de
mantos frios, ouço a minha voz, sinto a minha pele, quero que o mundo se pinte,
quero céus de todas cores, quero uma luz ao fundo do túnel, quero um mundo com início
e sem fim... Quero uma janela por onde possa espreitar, quero que me vejam, sem
ter que me olhar, quero uma coisa perdida no fundo do mar, quero saber porque
tudo continua assim, quero encontrar aquilo que foi perdido, aquilo que perdi
de mim. São sonhos que nunca desaparecem, mas que só se mostram quando tento
não adormecer, é como aquelas histórias que a minha mãe contava quando tinha
que dormir: a uma determinada altura, fechava os olhos e mudava-me para um
sonho.
Acordo e pergunto-me como tudo
correu mal, sou eu quem vais culpar? Abro os olhos e vejo um calor vindo do
nada, será que tudo vai acabar? Corri o mundo para ver todas as sensações,
fintei as dores para ter tudo de mim, fugi de tudo por ti para saberes o quanto
eu te quero; agora sou livre de tudo e nada deixo. Quero um mundo, quero as
dores, quero as cores, quero as sensações, quero tudo a que tenho direito e
mais. Deixei a liberdade para trás, nada posso ter quando estou livre. O vazio
da liberdade é o que me prende, é o que me obriga a querer este mundo e o
outro, é o que me deixa colada ao chão frio, é do que sou feita: nasci na
liberdade e na liberdade morrerei, por isso sou livre; a liberdade prende-me e
suga tudo o que de bom trago em mim, por isso não o estou.
Horas passadas neste chão frio e
começam as dores a atacar, começa a fome a aguçar as lanças, começa a sede a
enxugar o pavimento; e na minha mente cresce algo que se perde em mim, qual
criança num vasto verde campo.
No comments:
Post a Comment