No
meio. No meio de nada estava uma boneca de trapos. Uma boneca suja e feia. Uma
boneca de trapos muito mal tratada. Ao pegar nessa boneca sente-se um arrepio
de qualquer coisa mágica e inexplicável. A boneca é feia e suja, está usada,
mas todas as meninas querem refazer as tranças da boneca, querem lavar-lhe os
trapos e estar com a boneca. A boneca passa a ser uma companhia, as meninas
identificam-se com a boneca.
A
boneca anda de mão em mão, de casa em casa, de amiguinha em amiguinha, e
nenhuma das meninas percebe que a boneca está sozinha, porque enquanto a boneca
lhes está a fazer companhia, ninguém faz companhia à boneca. Ela não interessa,
afinal não passa de uma boneca. Não precisa de companhia. Mas precisa, a boneca
precisa de companhia, companhia é aquilo que esta boneca precisa mais. E ela
luta por companhia e quando começa a gostar de alguma menina, quando pensa que
esta vai ser a sua verdadeira amiguinha, essa amiguinha troca-a por uma boneca
nova, manda-a contra uma parede e diz-lhe que ela é só uma boneca de trapos, uma
boneca de trapos feia, suja e estranha.
E a
menina tem razão… ela é só uma boneca. Uma boneca de trapos encontrada no meio
da solidão. Uma boneca de trapos, cujos trapos estão tão sujos e destroçados
que ninguém a quer, ninguém quer uma boneca suja quando pode ter uma limpinha.
A
boneca só é boa companhia até um novo brinquedo voar na vida das garotas.
No comments:
Post a Comment