E pela minha rua teimas em passear-te. Cruzas-te com os meus vizinhos que, seguindo o bom exemplo português, me vêm logo contar. Eu, curiosa que nem o gato, abro os cortinados de minha casa e vejo-te a passar, com o teu ar apaparicado, o teu braço sobre os seus ombros e os teus lábios encostados à sua testa. Fico a admirar aquela que é a mais assustadora visão que eu podia ter… de repente, apercebo-me que os cortinados estão abertos e que tu estás do outro lado do vidro, dou graças pela existência da reflexão da luz do brilhante sol que hoje está.
Pior do que já está, não fica penso eu, então, por um momento, fecho os olhos, quando os abro, está decidido: vou abrir a janela. Com um gesto lento e suave, abro a janela e respiro o profundo ar da rua. É então que te dás conta que ali estou, que estamos frente – a – frente, pela primeira vez, desde que começaste a abraçar outro corpo. Enquanto procuravas o meu olhar, eu lutava contra os raios de sol nas minhas córneas, enquanto ela procurava acabar o beijo que tinhas interrompido, ao ouvir a janela abrir, tu afundavas a tua cabeça o mais que conseguias e enquanto eu sorria de felicidade, vocês cessavam o vosso toque.
Quando te vi, lembrei-me, quase instantaneamente, daquele nosso ultimo beijo que ficou por gastar, daquele abraço que ficou por apertar e daquele desejo que ficou por matar. Agora, depois de se terem aproximado alguns centímetros, ignorando a minha presença, apercebo-me que estou a divagar, encontro-me a desencaixar da minha personagem de menina feliz, e peço a todos os santos que não me olhes mais, junto todas as forças para aguentar aquele sorriso falso, ao ver-vos passar… finalmente, desaparecem…
Ela vê-me a sorrir, vê-te desconcentrado e acelera o seu passo. Anda tão depressa que nem tempo para endireitar a cabeça tens, mas, infelizmente, não anda depressa o suficiente, tu ainda consegues ver a primeira lágrima a cair pelo meu rosto, a primeira lágrima de um pranto inacabado. Inacabado porquê? Porque hoje, um dia depois, tenho que me levantar da cama e voltar a ser a menina feliz, a menina feliz que só fui contigo.
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