«Guitarra»

As mãos calejadas a tocarem as cordas daquela guitarra, que de tão tocada que é, já sabe aquele toque de cor. Tocando corda a corda, subindo na escala, fazendo os meus olhos chorar, essas mãos  que tão bem conheci, aquele toque, que já soube de cor, aquela escala, que sempre me fez chorar, fazem-me passear pela rua das memórias de ti. Essas mãos, fazem-me esquecer todas as outras ruas.
Dessa guitarra, reconheço o som, reconheço o seu som. Reconheço as cordas que contam as vezes que já foram dedilhadas, a sua boca que conta a tua história. As pautas que nunca lês conduzem-me aos momentos que nunca passámos.

Entro no meu mundo, vezes sem conta, à espera que toques. Que a tua música, aquela música, toque. Espero que algo que não acontece, por milagre, aconteça. A tua música, aquela música que nunca ouvi, essa música que só a mais simples menção me dá arrepios, dá-me alento para te procurar, dá-me alento para me perder em terrenos por descobrir. Espero encontrar-te, espero encontrar essa tua música, espero que quando te encontre, tenhas a tua guitarra. 

Nunca te ouvi tocar. Nunca ouvi uma única nota saída dessa tua tão amada guitarra. Sei, no entanto, que a esperança de alguma vez te ouvir a tocar nessas cordas, que já sabem as tuas mãos de cor, a esperança de te ver tocar, como nunca tocaste antes, essa esperança, esse sentimento de solidão, é a verdadeira forma de te procurar. Sem esperança, nunca te procuraria. 

Quero que toques para mim, quero que te encontres, e que toques para mim.