Naquela esquina ao abrigo da luz,
eu vi. Naquela
esquina ao abrigo do sol, da lua, do vento e do tempo, eu vi. Naquela esquina
tão escura e tão fria, eu vi uma sombra. Uma sombra dourada, azul, prateada, talvez fosse negra. Nem sei o que era,
nem sei o que queria ser, talvez uma pessoa, ou ainda um cão, um gato, um bicho
qualquer, não sei o que era nem o que queria ser.
Não quero
nem olhar para esta sombra tão delicadamente diferente de tudo o resto, tudo
aquilo que vejo e não vejo a meu redor. Quero encontrar força para ir ter com a
sombra dourada, azul, prateada ou negra, talvez
fosse negra, mas não sei onde mais procurar. Não me posso mexer mas quero
ver o que é.
O que és tu ó sombra? O que fazes
aqui, ó sombra? Do que precisas tu, ó sombra? Eu quero saber, mas não me posso mover, eu quero
saber o que és. Eu quero saber o que tu fazes, eu quero saber do que precisas.
Eu quero
ter-te na minha mão, como um pássaro que não voa, eu quero ver-te como uma
ferida aberta, eu quero sentir-te como uma pena na barriga. Ó sombra, aparece,
mostra-te, fragiliza-te, sê tu, ó sombra, identifica-te, nem que seja só
perante mim. Desce desse teu pedestal
tão assustador, e torna-te um de nós, um de nós mortais, um de nós seres
vulneráveis, mortais, seres diferentes de ti. Mostra-te a mim!
No comments:
Post a Comment