A chuva. Lembro-me
estranhamente bem da chuva. Lembro-me de estar sentada num canto, não sei
bem onde, mas sei que estava num lugar que eu pensava seguro. E lembro-me da
chuva.
Lembro-me de estar com os joelhos encostados ao peito e
tinha os braços à volta dos joelhos, quase que a segurá-los, não, mesmo a
segurá-los e lembro-me de começar a ouvir pingos a cair na estrada e, não tenho
a certeza, mas acho que pensei que estava num cliché, quase inacreditável, eu estava incrédula, acho, mas não me
lembro. Os pingos que ouvia tornaram-se mais fortes, conseguia ouvir os carros
a passar e ouvia a água, a diferença entre o antes e o agora era bastante perceptível.
Estava definitivamente a chover.
Lembro-me de me levantar e ir olhar pela janela, não me
lembro do que vi, sei apenas que ouvi um carro a fazer uma travagem brusca e
segundos depois, nem tanto, ouvi um grande estrondo, um gigante, estupendo pop.
Eu estava imutavelmente preocupada, perturbada e não sabia o que tinha
acontecido, o que se passava lá fora, na
liberdade da chuva.
Minutos após olhar pela janela para o vazio do outro lado da
janela, voltei a sentar-me e continuava a chover, e assim foi durante o que pareceu uma eternidade. Na manhã
seguinte quando acordei já não chovia, mas a estrada ainda estava molhada,
consegui perceber isso por causa do tal barulho da água quando os carros
passavam. Tudo estava como antes, antes da chuva, mas eu sentia falta da chuva, sentia falta daquele estranho
conforto que a paz da água me trouxe. Espero que chova, espero que a paz da
chuva volte à minha insignificante existência, espero que a sinfonia da água a
cair na estrada volte a entrar na minha mente.
No comments:
Post a Comment