Antes,
quando era mais nova, brincava com a cortina, mesmo com ela fechada, descida. Eu
enrolava a cortina no meu corpo e fingia, passava
um dia a fingir, e gostava e habituei-me a fingir. Fingir é tão mais fácil
do que ser verdadeira, do que ser real. Agora percebo os actores, eles que são
pagos para fingir, para decorar aquilo que devem dizer e se se enganarem,
voltam atrás e repetem. Era tudo tão
mais fácil de pudéssemos ensaiar, se todos pudéssemos praticar o que dizer
e o que fazer.
E
agora, agora já não finjo, ou melhor, já não finjo só na minha cabeça, agora o palco é a minha vida, a cortina é as
outras pessoas, aquelas que não me deixam passar para a plateia, e eu finjo ser
o que não sou como antes fingia ser uma
princesa, agora finjo ser normal. Finjo ser normal, quando não o sou, finjo
ser outra pessoa que não eu, finjo rir-me das piadas quando não lhes acho
piada, finjo olhar para onde não olho, finjo ver o que não vejo e finjo não ver
aquilo que vejo. Finjo ouvir aquilo que não ouço, finjo não ouvir aquilo que
ouço, finjo não acreditar naquilo em que
mais acredito.
Agora,
antes de a cortina subir, sei que não
finjo perder-me nos teus olhos, sei que não finjo ser quem sou. Estou à
espera que suba, que esta tão bela cortina vermelha suba. Estou à espera que
esta capa se levante de mim. quero ser verdadeira, real, mas a cortina não me
deixa. Estou á espera de ver a cortina subir, mas nada acontece, a cortina
nunca sobe. A cortina desceu. A
cortina baixou-se para nunca mais se levantar, e eu comecei a fingir para nunca
mais parar.
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