Deixaram-me aqui, caída no chão frio, como se morta estivesse, como se já não existisse. Mas ainda existo, ainda não estou morta, e lá ao fundo vejo, vejo alguém, alguém que um dia amei, alguém que um dia me deixou feliz, e esse dia parece estar cada vez mais distante, parece que nunca sequer existiu, porque não era suposto existir, porque oficialmente, nunca existiu... Vejo esse alguém despreocupado comigo, mesmo estando eu aqui, caída neste chão frio, sem me poder mover, sem poder dizer uma palavra, apenas largando lágrimas que pelo meu rosto descem, e no chão vão tocando quase a formar estalagmites, de tão fria que estou, de tão só que me sinto.
Mesmo assim, mesmo estando eu sozinha, deitada neste chão, imóvel, esse alguém que eu um dia amei, não se preocupa, esse alguém que hoje ainda amo, continua sem se preocupar.
Não sei como aqui vim parar, como caí aqui neste tão frio chão, eu que sempre tive tanto cuidado para não me perder nesse tão vasto mar de incertezas, nesse tão vasto mundo de dor... pergunto-me o que fiz de errado, onde errei, quando sei que alterei todas as minhas decisões, todas as minhas incertezas, de forma a evitar os mesmo erros que no passado cometi. Enquanto as minhas lágrimas vão formando as tais estalagmites, o meu cérebro começa a congelar, começa a ser uma reacção em cadeia, começo a gostar ainda menos de tudo o que se passa, sinto o meu cérebro a desligar-se, a deixar de funcionar correctamente, mas no meu peito, cá dentro, sinto algo também a alterar-se.
Enquanto aqui estou, caída, sem possibilidade de me levantar, sem ajuda para me mexer, sem reacção, sinto uma mudança, uma mudança no sitio onde aquele alguém mais me magoou, uma mudança no sitio de onde todas as minhas lágrimas vêm... vêm e vieram, enquanto aquele alguém me roubava da minha vida ainda por viver. Esta mudança deu-se tão repentinamente, quase equivalendo ao aparecimento de um trovão nos céus negros de uma noite chuvosa, esta mudança encontrou o meu peito e lá se instalou... E desde esse momento, desde o momento em que vi esse alguém tão naturalmente despreocupado comigo, desde aí, uma dor quase mais dolorosa que o fogo que me queima, abraçou o meu peito, e estando aqui caída, neste chão frio, ainda mais me dói, sentindo agora o fogo a queimar-me, literalmente.
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