(Des)Conhecido

Estou num descampado, o sol bate-me na vista e eu mal consigo ver o que está mesmo à minha frente. Está um calor insuportável, estou cansada de andar. Não conheço nada, tenho medo de me perder, no entanto vou dando um passo e outro e outro, mas muito devagarinho. Estou a percorrer este caminho sem fim nem principio. Penso num abismo, num abismo horizontal, é o que este caminho sem fim nem principio significa para mim.
Lá longe, vejo reflectida a luz do sol, em algo de vidro ou metal. Começo a andar mais e mais depressa em direcção àqueles raios solares reflectidos, começo a correr, quero-me aproximar, quero ver o que é. Consigo agora delinear a sua forma, é uma casa. Uma casa branca e o que estava a reflectir a luz do sol eram as janelas. Olho em volta, não vejo nada. Aquela casa está ali, no meio do meu caminho, mas à sua volta não há nada. Nada nem ninguém.
Vou-me aproximando, agora a medo, desta casa branca e enquanto me aproximo penso: Mas quem quererá viver tão isolado? Estou cada vez mais perto desta casa branca e passados apenas alguns minutos, estou parada à porta. Estou a olhar constantemente para trás, tenho medo que alguém de repente apareça e me leve para o desconhecido e dou comigo a pensar: Ao menos nesse tal desconhecido teria alguém, saberia que tinha o meu raptor enquanto que aqui estou sozinha, completamente sozinha, isto, onde eu estou, é muito mais desconhecido do que estar presa numa cave, algemada com fome e frio. Finalmente ganho coragem e bato à porta e és tu quem me aparece, tu que brincaste com o meu coração como se de plástico se tratasse, tu que me deixaste, tu que me mandaste para este meu abismo horizontal, tu que eu um dia amei. És  tu e agora, passado todo este tempo olho-te, vejo-te e volto-me para trás, deixando-te a olhar para mim como se de um fantasma se tratasse.