Balneários

Nos balneários, antes de uma prova, estavámos sempre preocupados com os penteados, os vestidos, as meias, a maquilhagem, os PATINS.

Éramos um grupo, unido. Um grupo que se apoiava mutuamente. Já fomos tantos, já fomos tão poucos, mas sempre juntos. E juntos, lutámos nas provas mais importantes, nos festivais menos conhecidos.

Quando entrávamos para um ringue, deixávamos de ser um grupo de pessoas, e passávamos a ser uma. Agarrados uns aos outros, numa roda, numa linha, em paralelas, em quadrados, a patinar para a frente, para trás, a fazer avião, águia, carrinhos, ou saltos, tudo se tornava possível, porque estávamos ali, estávamos em frente a um público que nos aplaudia. E ali dentro, dentro do ringue esquecíamos tudo, concentrávamo-nos no esquema, porque o importante era mostrar àquelas pessoas que sabíamos patinar. E sabíamos.

No final, quando agradeciamos, a adrenalina passava-nos pelo corpo, estávamos todos a sorrir, todos felizes porque estávamos a fazer aquilo que mais gostávamos.

E tão de repente, tudo mudou. Eu tomei a decisão de que mais me arrependo. Deixei a patinagem para trás. Deixei colegas e amigos de seis anos para trás.

A minha paixão pela patinagem nunca foi maior. É o desporto que me faz sentir feliz. É o desporto que me completa. É o que me faz inteira. Faz parte de mim. Quando vejo pessoas a patinar, o meu coração enche-se de sangue, os meus pulmões de ar e os meus olhos de lágrimas. Quando me lembro de todos os momentos que já passei na patinagem, quando me lembro de todos os desgostos que já tive na patinagem, de todas as maravilhosas pessoas que conheci enquanto patinadora, sinto tudo a voltar. Todos os sentimentos, toda a felicidade, toda a tristeza, todo o riso, todo o desgosto, todo o suor, todas as lágrimas.

Nos balneários, após uma prova, estávamos sempre vermelhos, a descalçarmos os patins, a vestir os fatos de treino. Estávamos sempre preocupados, com o quão bem nos tinhamos saído.

A vida de um patinador, passa por desgostos, lágrimas, suor, sangue (algumas vezes), tristezas, por preocupações, mas passa principalmente por complementação, por nós e os patins nos tornar-mos um só, por sorrisos, por felicidade, por arte. Tudo começa nos balneários, e nos balneários, tudo acaba. 

Aos saltos e peões, nós vamos patinar,

Nós vamos patinar,

Depois do pequeno-almoço e antes do jantar,

Depois do pequeno-almoço e antes do jantar.

Estamos aqui hoje para vos mostrar,

Para vos mostrar,

Que acima de tudo, sabemos patinar,

Que acima de tudo, sabemos patinar.