Grito no silêncio

Quero gritar. Aliás, preciso de gritar. Preciso que me ouçam de uma vez por todas. Preciso que tu me ouças de uma vez por todas. Mas não posso. Não posso deixar que vejam as minhas fraquezas, os meus defeitos. Não posso permitir que todos conheçam os meus problemas. Talvez porque os meus problemas são demasiado problemáticos para que entendam. Talvez porque não quero que conheçam a minha parte fraca. Talvez por não querer perceber o quão fraca realmente sou. Não sei os porquês. Apenas sei que do silêncio faço um grito. Que no meu coração, a solidão se transforma em loucura. Em amargura. 
Sou forte o suficiente para não deitar para fora tudo aquilo que se passa comigo, mas sou demasiado fraca para pedir que me deixem em paz. Sou demasiado fraca para perguntar ao Universo o porquê da confusão que se passa na minha vida. 
Deixei de acreditar em Deus quando tudo começou. Quando o turbilhão de emoções atingiu o meu peito. Enquanto as outras pessoas rezam, eu tenho a Ciência. Mas de que serve a Ciência quando os nossos problemas excedem o nosso poder? 
Para mim, um grito é mais que um pedido de ajuda. É um desabafo. É uma forma de expressarmos como estamos. Os nossos sentimentos podem ser expressos num só grito. No entanto, não há grito que expresse melhor aquilo que sentimos do que um grito no silêncio. Enquanto gritamos, temos voz, enquanto temos voz temos força. Mas se gritarmos e não sair nada. Se tudo aquilo que queríamos fazer era gritar e mesmo assim nada sair, é porque deixámos de ter força. Deixámos de conseguir lutar. 
Eu deixei de conseguir lutar há muito tempo atrás. Tento levantar-me no final de cada batalha, mas só me empurram mais. 
Grito no silêncio todas as noites antes de adormecer. É a única coisa que me faz adormecer. É a única coisa que deixa tudo menos escuro e silencioso. Durante uns míseros segundos.